Bilhete Único: quem ganha e quem perde com as mudanças em São Paulo

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Sob o argumento de diminuir gastos públicos e conter fraudes, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, instituiu mudanças que tornam o Bilhete Único menos vantajoso para quem trabalha longe de casa e para quem visita a cidade.

É essa a análise de especialistas em mobilidade urbana ouvidos pelo UOL a respeito das novas regras – as principais entram em vigor amanhã.
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Para quem tem Bilhete Único comum, houve uma mudança positiva: o tempo de validade da passagem passa de duas para três horas, com quatro embarques pagando uma passagem.

Mas para quem tem Vale-Transporte, o Bilhete Único passa a valer apenas para duas viagens. Entenda as mudanças:
Vale-Transporte dá direito a 2 embarques, e não 4

O que mudou: antes, os portadores de Vale-Transporte podiam embarcar em até quatro ônibus durante duas horas. A partir da sexta-feira (1º), o tempo aumenta para três horas, mas o número de ônibus autorizados com a mesma passagem caiu para dois.
O que diz a Prefeitura: essa mudança foi implementada porque a Prefeitura não repassará mais dinheiro público com o Vale-Transporte. Ele será todo bancado pelos empregadores. Com isso, serão economizados R$ 419 milhões.
O que dizem os especialistas: a medida vai prejudicar quem mora longe do trabalho e utiliza três ou quatro ônibus — normalmente, pessoas de menor renda. Com o fim da integração gratuita para quem pega três ou quatro ônibus, o gasto cairá sobre o trabalhador, ou sobre o empregador. E isso pode ter um efeito até sobre a empregabilidade dessa população:

Parte das empresas vão começar a selecionar mais ainda os funcionários, excluindo quem mora longe.
Horácio Augusto Figueira, Consultor em engenharia de transporte

Além disso, a mudança é incoerente com uma decisão da própria prefeitura, que pretende reduzir o número de linhas e diminuir os trajetos dos ônibus. Em outras palavras, o usuário terá que fazer mais baldeações (4% a mais, segundo cálculos preliminares), mas não terá estímulo financeiro para isso.

“Isso não é decisão de engenharia, é decisão política. Precisamos de técnica, que os engenheiros possam definir com técnica para que as mudanças façam sentido para o usuário”, segundo Ejzenberg.
É preciso apresentar RG para comprar Bilhete Único

O que mudou: desde junho de 2018, a Prefeitura vinha restringindo o chamado “Bilhete Único anônimo” – comercializado em qualquer ponto de venda, sem apresentação de identidade. Agora, o decreto oficializou: todo Bilhete Único está vinculado a um número de documento oficial. A pessoa pode escolher estampar nome e foto no cartão – ou não.
O que diz a Prefeitura: o objetivo é coibir fraudadores, que utilizavam a integração do Bilhete Único para vender passagens mais baratas para outros usuários.
O que dizem os especialistas: a medida tem pontos positivos e negativos.

Pontos positivos:

Com o registro do usuário, você consegue controlar a fraude. Também permite que o usuário recupere os créditos, caso perca o bilhete, já que agora o cartão está vinculado a seu nome.
Sergio Ejzenberg, engenheiro e mestre em Transportes pela USP.

Pontos negativos:

No caso de turistas, como eles vão fazer? Terão de enfrentar fila para comprar bilhete toda vez? Essa cidade tem milhares de eventos, como é que vem de fora vai se locomover?